Vilão respeitador de minorias não faz sentido

Maldita seja a "moral cinzenta" de alguns escritores, que ao criar histórias optam por esse lenga-lenga de "bem e mal são relativos", desenvolvendo vilões que não são propriamente maus, mas apenas "incompreendidos". O sujeito pode ter uma ficha criminal maior que o território da Rússia, mas, curiosamente, parece haver sempre um limite ético que o impede de ser racista, homofóbico/transfóbico ou misógino. E, se duvidar, ainda tem uma cena onde ele faz um discurso em defesa das minorias. Aí eu pergunto: onde está a lógica nisso? Por que um criminoso imoral teria o mínimo de respeito por algo ou alguém?

O objetivo de um vilão é ser o oposto dos ideais do herói, a personificação do mal, com ações questionáveis e limites inexistentes. Então, por que alguns vilões têm códigos de ética tão específicos? O exemplo mais gritante disso é aquela cena ridícula onde o Coringa demonstra nojo ao descobrir que o Caveira Vermelha é nazista, soltando um discurso medíocre sobre ser "um louco, mas um louco americano". Ora, estamos falando do mesmo personagem que matou uma criança a golpes de pé de cabra, deixou Bárbara Gordon paraplégica com um tiro, espancava e xingava Arlequina, e torturava pessoas sem a menor hesitação. Como faz sentido ele se sentir moralmente superior na presença de um nazista? Ele é, no mínimo, tão abominável quanto – talvez até pior.

Parece que os escritores seguem uma lógica absurda: tortura psicológica, assassinato e roubo podem, mas antissemitismo ou supremacia branca são "demais". Vilões racistas, homofóbicos/transfóbicos ou misóginos geralmente são reservados para histórias com protagonistas racializados, LGBTs ou mulheres, porque os "vilões padrão" não podem ser tão maus assim. Talvez os escritores queiram transmitir que não são preconceituosos, ao mesmo tempo que tentam gerar empatia no público, frequentemente recorrendo a um "passado triste" para justificar as ações do vilão. Isso também não faz sentido, porque sofrer injustiças não é desculpa para cometer mais injustiças.